“O porto de Santos vai precisar ampliar a capacidade para grãos.” A declaração é de Pedro Palma, o CEO da Rumo, que neste ano fez acordos para ampliar em cerca de 10 milhões de toneladas a capacidade do mais importante porto do país para esse tipo de carga e está achando que ainda será insuficiente para o futuro.
Em conversa com a Agência iNFRA durante o encontro de ferrovias promovido pela associação do setor, no fim de agosto, Palma indicou que a necessidade de ampliar mais é a crescente produção de grãos na região central do país para atender ao principal mercado comprador desses produtos do país, o Sudeste Asiático. Na avaliação da empresa, não tem logística mais apropriada que o escoamento desse mercado para essa região do que pelo porto paulista.
“Não acredite em nenhuma dessas outras soluções que contam por aí”, afirma o CEO da companhia, citando entre elas escoamentos pelo Canal do Panamá ou por portos na costa oeste da América do Sul.
Para ele, há casos específicos pelos quais a logística para exportação é mais econômica por outros portos e ferrovias, lembrando que a geografia terá sempre papel fundamental, mas que para os grãos produzidos na área que envolve Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para a Ásia, que consome 85% da exportação brasileira, o caminho é o porto paulista.
“É só seguir o dinheiro. Onde os grandes players do mercado estão colocando seus investimentos?”, pergunta Palma.
O recente acordo firmado pela Rumo para ter uma área no terminal privado DP World, segundo Palma, é suficiente para uma demanda adicional que a empresa terá com a implantação da extensão da Ferronorte, que está a pleno vapor. O local do primeiro terminal de carga foi definido recentemente, em Primavera do Leste (MT), numa área próxima à BR-070, a cerca de 160 quilômetros de onde a ferrovia começa atualmente, em Rondonópolis (MT).
Sem gargalos para a extensão da Ferronorte
No total, a extensão da Ferronorte tem 730 quilômetros projetados e chega à cidade de Lucas do Rio Verde (MT). A ideia, de acordo com o CEO, é fazer novos terminais a cada 150 a 200 quilômetros ao longo da ferrovia, que é construída em regime de autorização do governo do Mato Grosso e é a única sendo implementada com obras até hoje nesse modelo.
Palma disse que o projeto da extensão privada da Ferronorte anda “superbem”. Em cinco anos, desde a assinatura da autorização, a ferrovia já estará transportando carga, garantiu o CEO. Por isso, segundo ele, era preciso estar com o portuário resolvido em Santos para não haver gargalo nas novas cargas que serão captadas, equilibrando a nova demanda com a oferta.
Para ele, também será necessário garantir os investimentos na Malha Paulista de Ferrovias e na Fips (Ferrovia Interna do Porto de Santos), que ele garantiu que estão assegurados e não vão virar gargalos para a ampliação de cargas do setor.
Nem mesmo a capacidade do porto, para ele, seria um gargalo. Palma avalia que Santos tem um estuário com capacidade para receber novos grandes terminais desse setor e que um dos problemas apontados por outro setores, o canal de acesso com profundidade atual de 14,5 metros, não é desafio para os navios graneleiros, que utilizam profundidades menores.
Provimento de infraestrutura viabiliza o agro
O CEO da companhia ferroviária, no entanto, diz que os investimentos precisam acontecer porque a demanda do setor graneleiro continua subindo. Neste mês, a empresa inaugurou seu primeiro terminal no estado de Tocantins, em outra ferrovia que ela opera, a Malha Central da Ferrovia Norte-Sul, que vem do Tocantins e se conecta à Malha Paulista (a que chega a Santos).
Guilherme Penin, vice-presidente de Regulação e Sustentabilidade da Rumo, conta que a produção da região ao redor desse terminal hoje não trabalha da mesma forma que outras regiões produtoras mais desenvolvidas, sem plantar por exemplo a segunda safra de milho. Para ele, com a infraestrutura chegando, a possibilidade disso se concretizar passa a ser real.
Penin avalia que o crescimento acelerado do agronegócio do país está ligado em parte ao provimento de infraestrutura que o país tem dado, com aumento das capacidades em várias áreas, o que torna os investimentos do agro economicamente possíveis de serem feitos.
Malha Oeste e Malha Sul
A empresa discute com o governo no momento a ampliação de capacidades em suas outras duas malhas, a Malha Oeste e a Malha Sul. Segundo o CEO Pedro Palma, no caso da Oeste, um grupo de trabalho está estudando um formato para a ferrovia, que tem um pedido oficial da empresa para relicitação.
Ele afirmou que, no momento, não há ainda algo concreto para que se possa tomar uma decisão. A Agência iNFRA publicou em agosto que o governo estuda dividir a malha em duas partes e uma delas poderia ser repactuada com a própria Rumo.
Já a Malha Sul, segundo Palma, sofreu danos estruturais severos em alguns trechos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina durante as chuvas do último ano. O contrato finda em 2027, e a Rumo tem uma proposta para renová-lo, que está em análise pelo governo. Para o CEO, a malha é altamente heterogênea, e uma renovação precisará necessariamente ser pensada com configuração diferente da atual.
Fonte: Agência iNFRA
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