O Parque Valongo está começando a virar realidade na área dos antigos armazéns 4, 5 e 6 do Porto de Santos. As obras tiveram início quinta-feira, durante visita do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, à região. A conclusão é prevista para junho de 2024.
A construção será viabilizada pela Cofco International, que investirá R$ 15 milhões na primeira fase do projeto. Essa primeira etapa consiste na recuperação do Armazém 4 e da Casa de Pedra e na construção de uma praça pública na linha d’água, na área onde havia os antigos armazéns 5 e 6.
A obra se tornou possível por meio de um Termo de Responsabilidade de Implantação de Medidas Mitigadoras ou Compensatórias (Trimmc) assinado entre a companhia chinesa, a Administração Municipal e a Autoridade Portuária de Santos (APS).
O projeto inicial foi apresentado em audiências públicas e dois equipamentos sugeridos nesse período acabaram incluídos: um playground e um píer flutuante. O processo, com as novas obras, foi enviado para apreciação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O playground e o píer serão custeados pela Ecoporto Santos, via Trimmc de R$ 5 milhões assinado em 18 de agosto. Na mesma data, foi celebrado outro Trimmc, com a Brasil Terminal Portuário (BTP), para revitalização da área e entorno dos antigos armazéns 1, 2 e 3. A BTP destinará R$ 23,7 milhões às obras da segunda fase. Com a inclusão das novas obras, o objetivo é expandir o projeto.
O Parque Valongo, os benefícios que ele pode trazer para Santos e para a relação Porto-Cidade foram alvo da reflexão dos colunistas de Porto & Mar, de A Tribuna.
Rodrigo Paiva, especialista em infraestrutura e consultor portuário
"É com muita felicidade que temos a primeira fase do Parque Valongo em desenvolvimento, em parceria do Porto de Santos e da Prefeitura. A inserção de áreas portuárias no entorno urbano é discutida e implementada há décadas em diversos países, inclusive no Brasil, de forma a integrar as atividades urbanas à áreas operacionais pouco utilizadas para movimentação de cargas. Para o município de Santos, haverá um ganho urbanístico significativo e para a população, sem dúvida, mais uma área de lazer com estrutura adequada. A vida do município e do porto são enraizadas e nada mais interessante do que integrar cada vez mais as duas atividades"
Flavia Maya, consultora jurídica e especialista em diversidade
"A recuperação de regiões portuárias e o seu resgate como ambiente de convivência social compõem um movimento vem ganhando força no País, o que traz possibilidades interessantes de contato da sociedade com o presente e o passado do Porto. O Valongo é uma região tradicional de Santos, marcada pelo caminho ao longo da costa, razão pela qual teria recebido esse nome. Contudo, Valongo também é conhecido, em outros locais do Brasil, como local de venda, ou entreposto comercial, de escravizados. Em Santos, a região serviu também para a entrada de imigrantes, que ajudaram a construir a identidade de toda a região. Por tudo isso, a iniciativa de recuperação do Valongo é muito bem-vinda, pois ampliará o acesso da população a uma região de Santos que está longe dos tempos de glamour de outrora, ampliando a relação entre a cidade, a população e o porto. Mas é também uma grande oportunidade de conciliar Santos com sua história. De modo geral, a dificuldade de se entender com o próprio passado é, talvez, algo cultural no Brasil. Parece-me quase sintomático que no outro Valongo famoso, o carioca, haja apenas um recorte de chão do passado, nos remetendo aos milhões de escravizados que ali pisaram e, logo ao lado, um imenso e moderno monumento ao futuro, o Museu do Amanhã. Encarar o passado com sua beleza e e peculiaridades nos situa em uma trama social que é muito mais complexa do que aparenta ser e nos torna humanos, na medida em que passamos a visualizar dentro de nós todos esses elementos e podemos, enfim, decidir com quais deles queremos construir o nosso futuro"
Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°, da TV Tribuna
"Existem alguns pontos de preocupação com o Parque Valongo. O principal é o seguinte: nós já acompanhamos obras que já foram feitas não só aqui, mas em outras localidades, onde não havia nenhum tipo de incentivo para que o espaço fosse frequentado. Então, apostar na gastronomia e no turismo, por exemplo, é muito importante. Mas fica uma grande interrogação: se o Terminal de Passageiros não for transferido para os outros armazéns próximos à área que receberá a primeira intervenção, conforme está previsto, aquele local vai ter qual tipo de aplicação? É uma bala de prata, tem que saber o que vai fazer. Tem que ter atividades para que seja frequentado. O projeto é muito legal, mas precisa ter vida. Caso não aconteça a transferência do Terminal de Passageiros, eu deixo aqui uma sugestão de utilização para os outros armazéns: a primeira universidade portuária da América Latina"
Fonte: A Tribuna
Comments