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O amor ao trabalho no Porto de Santos é orgulho para Estivadores há 50 anos

Muito do caminho trilhado pelo Porto de Santos em 130 anos para se tornar o maior complexo portuário da América Latina passa pelos estivadores.

Mesmo em meio a embates históricos e muito suor do porão ao convés dos navios que chegam com todo tipo de carga, a profissão acompanhou a evolução tecnológica do setor e, hoje, há trabalhadores da estiva com meio século de serviço que sequer cogitam deixar a cais santista.

Mesmo após a aposentadoria, Jair Francisco de Sales, 80 anos, Paulo Eduardo Feijó, 76, e Marcos Antônio Santana Damasco, 67, optaram por seguir à disposição da estiva. Eles são alguns dos representantes mais antigos da categoria no Porto de Santos e viram de perto as mudanças provocadas pela tecnologia nas operações.

“A minha melhor fase está sendo agora, porque não há trabalho manual pesado, como antigamente. Os sistemas de máquinas e guindastes cresceram bastante”, explica Paulo, que nem sonha em deixar a profissão e se assusta ao ver os mais jovens almejando a aposentadoria. “Enquanto eu tiver saúde, estarei aqui”.

Aos 80 anos, Jair também não tem intenção de interromper a carreira, principalmente pela liberdade proporcionada pelo trabalho avulso. “Vou ao trabalho quando quero. Eu poderia parar de trabalhar, mas tenho tanto amor na minha profissão que quero continuar”. Esse orgulho é citado por Marcos. “Trabalhamos com uma carga num dia e outra bem diferente logo depois. Além disso, hoje é uma equipe comigo, mas amanhã serão outras pessoas, não há rotina. O tempo voa.”


Família


Há mais de 55 anos atuando no cais, Paulo diz que a profissão é um legado familiar. “Meu pai foi estivador, mas faleceu cedo e meus tios começaram a me levar para trabalhar”. Ele relembra que o avô e primos também atuaram no cais. A carreira foi escolhida por seus filhos. “Eu tive dois filhos e ambos trabalham no Porto. O mais velho faleceu, mas o outro contínua trabalhando”.


Atualmente, um neto de Paulo tenta a mesma profissão, que passou por uma radical transformação. “Agora, está mais fácil e leve. Antigamente, tinha café, algodão, caixa de laranja e embarque de banana. Cheguei a pegar guincho a vapor, depois comecei com as empilhadeiras, peguei as primeiras a bordo. Três anos depois, passei para escala do trator e estou nela até hoje, mas com equipamentos bem mais modernos”.


Segundo Paulo, o serviço o mantém disposto e na ativa aos 76 anos. “Devido ao trabalho, eu me conservei. Subo em guindaste, trabalho com máquina e trator. Fiz 16 cursos. Chegamos a ser escala de elite no Porto de Santos. E isso é o que mais me marcou: fui me aperfeiçoando”.

Jair concorda e diz que as condições de trabalho evoluíram. Por isso, segue no cais, mesmo aposentado há 29 anos. “Se fossem as mesmas condições de antes, já teria deixado de trabalhar, pois era sobrecarregado. Eu fui sindicalizado em 1973, mas como matriculado, estou desde 1968 no Porto. Trabalhei no embarque de café, o serviço era mais manual”.


“O serviço era bruto, mas a gente fazia com responsabilidade e vontade. Os estivadores de Santos eram considerados os melhores do mundo”, afirma Jair, que no início de carreira atuava na iniciativa provada e virou avulso após um convite do primo, que era estivador. “Hoje, agradeço a ele por ter me colocado nessa profissão. Tenho muito orgulho de ser estivador. Somos sobreviventes do Porto”.


Orgulho e temor


Dos 67 anos de vida de Marcos, cerca de 50 foram dedicados à estiva. “Meu avô e dois tios foram estivadores. Quando comecei a trabalhar e vi que, em um serviço como estivador, ganhava mais do que o mês inteiro em outro emprego, falei: “daqui não saio mais”. E assim fiquei até hoje. Quando cheguei, os guinchos no navio eram longe, hoje já são próximos. Fiz todos os cursos e fui instruído de ponte rolante de três a quarto anos”.

Como tudo na vida, o trabalho no cais também tem seus momentos ruins e os acidentes fatais deixaram marcas difíceis de serem apagadas para Marcos. “Lembro bem de uma fatalidade”, diz, em referência a um amigo que morreu no dia em que fazia aniversário, ao movimentar enxofre. O próprio Marcos passou mal durante um trabalho em câmara frigorífica. Mesmo assim, nunca pensou em largar o serviço. “Tem que ter atenção, mas quem trabalha no cais não quer sair. Eu gosto muito”, finaliza.






Fonte: A Tribuna

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