Uma pesquisa realizada com bromélias revelou que a poluição na região portuária de Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, no litoral de São Paulo, é maior no inverno do que no verão. As plantas dispostas em saquinhos, em 43 pontos daquela região, filtraram cinco vezes mais partículas de metais pesados, como cádmio e cobre, na estação mais fria do ano.
O levantamento foi realizado entre 2019 e 2020 sempre nos meses de janeiro e fevereiro, no verão, e junho e julho, no inverno. O estudo foi realizado pela Universidade Nove de Julho (Uninove) em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A constante passagem de veículos pesados por aquela região, como caminhões e carretas, é vista como fator causador da poluição que, de acordo com a análises da pesquisa, pode dar um panorama do que deve ser feito para melhorar a qualidade do ar.
A coordenadora da pesquisa e professora da Uninove, Andreza Portella Ribeiro, afirmou que a ideia da pesquisa surgiu justamente para analisar o impacto do grande fluxo de caminhões e outros veículos pela área portuária do lado de Guarujá -- a margem esquerda do Porto de Santos.
No verão, segundo a pesquisadora, foram encontradas 1148 partes por bilhão (ppb) de metais pesados nas bromélias expostas na região da Rua do Adubo.
O número é 32 vezes maior do que o analisado nas amostras dispostas na Área de Preservação Ambiental (APA) Municipal da Serra do Guararu, que serviu como controle da pesquisa.
No inverno, a concentração passou para 5428 ppb. "Esse valor não é o que estamos respirando, é o que a planta acumulou ao longo de um mês". Segundo a professora, a absorção de um elemento químico é diferente entre plantas e seres humanos.
"Só que [a pesquisa] está mostrando que tem poluente disponível ali e tem pouca área verde", disse Andreza.
A coordenadora ressaltou que o impacto desses poluentes pode ser reduzido com o aumento de vegetação naquela região. "Guarujá tem 65% de fragmentos de mata Atlântica. Vicente de Carvalho tem 14% de área verde, sendo 5% de árvore".
Para a pesquisadora, o estudo revelou que há enriquecimento de poluentes no local e a presença do cádmio na bromélia ocorre por causa da frota de caminhão. "Se considerar uma área de conservação limpa, a planta tem um enriquecimento muito grande".
Doenças respiratórias
A médica infectologista e professora da Uninove, Alessandra Pellini, afirmou que a ideia é explorar os dados obtidos e levá-los para a área da saúde.
"Existe um maior número de internações nos meses de inverno e as doenças crônicas descompensam no inverno. Foi uma coincidência [o resultado da pesquisa]? Não dá para afirmar, preciso de mais dados para entender a determinação do poluente na internação".
A Prefeitura de Guarujá informou que mais de 1,4 mil árvores foram plantadas para aprimorar a qualidade do ar nas áreas portuárias do distrito de Vicente de Carvalho, que foi monitorada entre 2019 e 2020 pelo projeto Atlas da Poluição Ambiental, desenvolvido pela Semam.
Lições da pesquisa
O superintendente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Autoridade Portuária de Santos (APS), Sidnei Aranha, destacou três lições que a pesquisa ensina.
A primeira, a médio prazo, trata da necessidade da APS e da Prefeitura de Guarujá reflorestarem o município.
A segunda depende da obra na Perimetral, conforme anunciada pelo Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. "Nós precisamos, e a pesquisa demonstra isso, separar o trânsito pesado que acessa a margem esquerda do trânsito normal [veículos de passeio]. E, quando separarmos, vamos conseguir fazer cortinas verdes". Isso, segundo Aranha, deve diminuir o impacto causado pela emissão de CO2 [dióxido de carbono].
Já a terceira lição, segundo o superintendente a mais importante, se refere ao túnel de ligação seca. "A pesquisa demonstra que o túnel deixa de ser uma obra só de mobilidade urbana e passa a ser de caráter ambiental".
Fonte: G1
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