Representantes de importantes portos da Europa e dos Estados Unidos manifestaram, nesta quinta-feira (14), que estão em busca de parcerias com portos brasileiros a fim de ampliar o comércio exterior. A aposta desses players está na infraestrutura disponível, nos investimentos em andamento e na possibilidade de desenvolver novos negócios. Eles destacaram o bom momento para importação de mercadorias brasileiras e a injeção em diferentes setores para aquecer as economias no pós-pandemia.
O representante do Porto de Antuérpia para a América Latina, Matheus Dolecki, destacou que Antuérpia é o porto europeu que mais troca contêineres com portos brasileiros, correspondendo a mais de 15% do mercado, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Ele disse que o complexo tem intenção de aumentar a relação com o Brasil e que, além de infraestrutura, investe em sustentabilidade para continuar a ser alternativa para as exportações brasileiras. O porto conta ainda com a plataforma Port Community System, que permite a troca de informações online para segregação eficiente dos contêineres e melhor trâmite para a liberação aduaneira de forma antecipada.
Dolecki acrescentou que o complexo belga é o porto de entrada para as exportações brasileiras na Europa e hub de transbordo para outras regiões. Atualmente, Antuérpia é o segundo maior porto da Europa e o 14º do mundo. No primeiro semestre, o porto cresceu 5% na movimentação geral, sustentado pelo setor de contêineres. “Estamos com boas perspectivas para terminar 2021 e atingir novo recorde histórico de movimentação do porto”, projetou no workshop sobre o desenvolvimento do comércio exterior brasileiro através de portos e parceiros internacionais, durante o 40º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), promovido pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Porto do Açu
Na ocasião, o diretor de sistemas, planejamento e comunicação dos portos de Sines e do Algarve, Luís Miguel Silva, afirmou que o complexo português tem intenção de se tornar um hub de distribuição de granéis sólidos, sobretudo soja e milho produzidos no Brasil. “Temos capacidade de instalar um hub agroalimentar — frutas, carnes e produtos que, neste momento, vão para o norte da Europa. Queremos ficar com um pouco dessa carga. Achamos que temos condição para isso”, salientou Silva. Hoje, Sines concentra metade de toda a carga movimentada pelo país no modal marítimo, tanto em tonelagem total quanto em contêineres.
O Porto de Sines, que está a cerca de 150 quilômetros ao sul da capital Lisboa, tem capacidade para receber navios com até 190 mil toneladas e agregar valor à carga na zona industrial, exportando por transbordo para outros países da Europa, norte da África e Mediterâneo. Silva disse que Sines é o primeiro porto europeu do Atlântico, mais próximo das Américas. Ele destacou que os terminais podem receber os maiores navios do mundo em diferentes segmentos de carga, beneficiados por profundidades de até 28 metros e fundos rochosos que dispensam a necessidade de dragagem.
A expectativa é que o Porto de Sines cresça 14% na tonelagem em 2021, alcançando perto de 48 milhões toneladas movimentadas e cerca de 1,85 milhão de TEUs na carga conteinerizada. Por conta do fechamento de termelétricas a carvão no país, o porto deixou de receber seis milhões de toneladas do insumo por ano, que vêm sendo aos poucos compensadas por carga geral. No tráfego com o Brasil, destaque para a importação de quase três milhões de toneladas de óleo cru em 2020, com a exportação de produtos refinados para os portos brasileiros.
Silva acrescentou que existe um tráfego regular da ordem de 40 mil TEUs/ano de carga conteinerizada entre os dois países. De janeiro a maio de 2021, foram movimentados 15.000 TEUs, principalmente de Portugal para o Brasil. “Nossa aposta tem sido no mercado agroalimentar (agronegócio). Estamos a tentar com autoridades brasileiras desenhar um projeto que nos permita receber aqui o milho e a soja e que depois possamos distribuir na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e em alguns portos da Europa, Norte da África e Mediterrâneo”, detalhou Silva.
O terminal de contêineres de Sines passa por ampliação de capacidade, dos atuais 2,3 milhões TEUs/ano para 4,1 milhões de TEUs/ano. Semanalmente, o porto recebe navios com mais de 20.000 TEUs. A aliança entre entre Maersk e MSC permite receber navios que vêm majoritariamente do Extremo Oriente, com ligações aos principais mercados do mundo: Europa, Mediterrâneo, África e Américas. Serviços da Maersk e da Hapag Lloyd fazem ligação com os mercados brasileiro e argentino.
A ligação de Sines à hinterlândia é feita principalmente por trem. Em 2020, a média semanal foi de 110 trens de contêineres transportados nas plataformas logísticas em Portugal e na Espanha. Apesar disso, a ligação atual não é considerada mais eficiente e está sendo construída outra ligação para aumentar a capacidade em duas vezes e meia a movimentação de comboios. “Vamos passar 36 comboios de 400m para 51 comboios de 750m. Isto vai nos permitir ser muito competitivos em todo mercado ibérico”, projetou.
O representante para a América do Sul do Porto de Virgínia (EUA), Antonio Carlos Amado, disse que a administração do porto está em busca de fornecer ao exportador brasileiro a melhor logística para entrega nos Estados Unidos, se antecipando para evitar problemas como de retenção de alfândega ou falta de liberação para armador, diminuindo a exposição à demurrage. O porto norte-americano projeta crescimento médio de 10% das exportações para o Brasil em 2021, ante crescimento de 14% estimado para o porto como um todo.
O representante do Porto de Houston (EUA) para as Américas do Sul e Central, Moacyr Pedro, ressaltou que Houston também se insere como alternativa para escoamento de carga na costa oeste norte-americana, considerando que os problemas logísticos devido ao boom do consumo mundial durante a pandemia. Pedro falou que existem boas perspectivas de negócios para 2022 para atividades como a construção civil.
Ele citou que o presidente Joe Biden anunciou um plano bilionário para a renovação da infraestrutura de saneamento básico para mais de 30 estados norte-americanos. O programa demandará material de construção nos EUA, como também tubos e conexões. Ele acrescentou que o leque de mercadorias brasileiras, devido ao câmbio, está barato para o mercado externo. “Além de prover soluções, estamos para expandir novos horizontes para a indústria brasileira”, disse Pedro.
O presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria e Turismo, Gilberto Ramos, contou que existem grandes empresas russas interessadas em participar de concessões e de negócios em diferentes segmentos no Brasil. No radar estão desde exportação de fertilizantes e equipamentos para a expansão da malha ferroviária brasileira a projetos de construção de gasodutos e de energias renováveis. “Podemos projetar universo alvissareiro, principalmente ferrovias”, disse Ramos. Ele acrescentou que existem investimentos bilionários da Rússia no Brasil num horizonte de cinco anos que é uma base que pode ser maior, dependendo do desenvolvimento de projetos dos setores de infraestrutura.
A gerente de desenvolvimento de negócios internacionais do Porto do Açu (RJ), Maartje Elise Driessens, adiantou que o terminal multicargas do complexo portuário e industrial continuará a investir em armazenagem, num primeiro momento, para a importação de fertilizantes da Rússia. O porto pretende construir mais galpões em 2022, alinhada à sua estratégia de ampliar a movimentação de cargas para o agronegócio. Maartje acredita que o Brasil pode se inspirar em exemplos de benchmarkings internacionais para modernização de serviços portuários e para agregar valor às cargas antes da exportação. Ela observa os projetos de sustentabilidade como oportunidades para aprender com parceiros internacionais novas tecnologias de descarbonização.
O diretor de negócios da BBC do Brasil e vice-presidente da Interocean, Fabiano Rodrigues, destacou a recorrência da exportação de grandes tubos de aço. Há 19 anos no Brasil, a empresa especializada em carga de projetos opera 150 navios multipropósito em todo mundo. Entre as rotas com portos brasileiros, destaques para os trades com EUA, norte da Europa e costa oeste da África, que somam mais de 300 escalas anuais em portos dessas regiões. Esse número chega a 420, considerando o transporte marítimo até a Argentina. Rodrigues disse que a empresa também está atenta aos investimentos em infraestrutura ferroviária, que devem continuar a gerar cargas de importação para os portos brasileiros.
Fonte: Portos e Navios
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